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135- Sonho e desespero

 No Limiar , escrito em 1863, presente na primeira edição de Crisálidas, 1864 Uma daquelas poesias que se fazem entender com a leitura de seus últimos versos, pois relendo o texto após a revelação se desfaz o mistério inicial. Texto que pode indicar as tendências futuras do autor de entender o que se passa na cabeça das pessoas, com o uso de personificação dos sentimentos de esperança e desengano. Lendo agora não posso deixar de associar a Sandman de Neil Gaiman, como uma conversa entre o Sonho e a Desespero.

130- “Está de luto a cena nacional.”

A morte de João Caetano , publicado em primeiro de setembro de 1863, no Diário do Rio de Janeiro ano XLIII, n.239,p.1. Homenagem pelo falecimento do ator João Caetano. “O nome de João Caetano ficará nos anais do teatro e chegará à memória dos vindouros. Mas é aqui o ponto de maior tristeza. O que é a veneração da posteridade pelos artistas de teatro? As cenas palpitantes, as paixões tumultuárias, as lágrimas espontâneas, os rasgos do gênio, a alma, a vida, o drama, tudo isso acaba com a última noite do ator, com as últimas palmas do público. O que o torna superior acaba nos limites da vida; vai à posteridade o nome e o testemunho dos contemporâneos, nada mais.” É muito bem escrito. <Nesse momento histórico Machado de Assis não podia suspeitar na vindoura invenção dos filmes>.

115- “O que a terra não deu, dar-nos-á o Senhor!”

Aspiração ,  poesia, publicada pela primeira vez em primeiro de Outubro de 1862, em “O futuro”, ano I, n.2, p.65, depois republicado na primeira edição de Crisálidas em 1864     O poeta começa falando da sua tristeza. Diz que por ser jovem, as pessoas não acreditam que ele possa estar triste. Discorre por vários versos sobre sua desilusão. Que as coisas do mundo são vãs. Conclui que só em Deus pode encontrar o que busca o que lhe falta.     O texto é muito bem escrito.

110- “Os carinhos de Anfitrite”

O País das quimeras, publicado originalmente em “O Futuro”, 1862 É um dos primeiros contos de Machado de Assis e é profético do que vai vir. É sobre Tito um poeta, descrito com riqueza de detalhes o que dá vida ao personagem. Tito vende versos para se sustentar. O comprador da poesia impõe monopólio absoluto sobre a produção literária de Tito. No entanto Tito se apaixona por uma moça e começa a burlar o monopólio para dedicar poesias, sonetos e serenatas a sua amada. Mas, apesar dos esforços a moça recusa Tito, que se vê desolado. Até aí temos um típico enredo da época, boas personagens, um bom conflito que nos leva a ansiar por qual será o desfecho. Entretanto, numa virada de expectativas, Machado de Assis leva Tito a encontrar uma visão, uma fada alada, companheira “dos que pensam e dos que sentem”, que o leva a uma viagem pelo céu até o país das quimeras. Nesse lugar Tito encontra seres fantásticos que seguem regras próprias, seres que personificam fantasias e utopias, cicerone...

98- “Mas eis que o anjo pálido da morte”

Dois poemas desta vez: “ No Álbum da artista Ludovina Moutinho ”, publicado em “A Primavera”, em 17 março de 1861. “ Sobre a morte de Ludovina Moutinho ”, publicado no “Diário do Rio de Janeiro”, ano XLI, n.165, p.2, em poesia 17 de junho de 1861. Depois é republicado com o título “Elegia” em Crisalidas em 1864. Ambos são homenagens à atriz Ludovina Moutinho, jovem artista conhecida no teatro, que chocou o público carioca com sua morte inesperada. <Nessa época quando pessoas famosas morriam os escritores escreviam e publicavam poemas em sua homenagem, é uma bela tradição que está se perdendo.> <A palavra nova da semana é: esquife. Usado na seguinte passagem: “Se, como outrora, nas florestas virgens,/ Nos fosse dado — o esquife que te encerra(...)”. Significado: “pequena embarcação, ou ainda caixão funerário, modo de transporte de uma vida para outra”. Origem : do Longobardo skif >.

90- Os vinte anos de Machado de Assis

“Odisséia dos Vinte Anos”, publicado na Marmota, n. 1.147, p. 3, 30 de março de 1860, pode ser lido neste trabalho onde foi transcrito. É o primeiro texto em que Machado deixa a pena da crítica para tentar a pena de criador de teatro. A cena toda é uma conversa entre dois amigos, que passa por uma discussão sobre os males da alma e a poesia de Byron. Um dos interlocutores chamado Luís diz que perdeu a mãe aos nove anos, fato que também aconteceu com Machado de Assis, seria isso a indicação de que este personagem expressa a opinião do autor? Luís se diz desiludido da vida, que todos são cínicos, que se sente com vinte anos uma pessoa velha. <A palavra nova do texto é: patíbulo. Usado por Machado na seguinte passagem: “(...) aqueles que têm em cada dia, não vinte e quatro horas de vida, mas um degrau do patíbulo para que sobem lentamente;(...) ”. Significado: “lugar de execução da pena de morte”. Origem : Do latim patibulum>.

84- “Foras um sonho que eu tive, (...)”

“ Ícaro ”, escrito em 1859, publicado no Correio Mercantil em 9 de janeiro de 1860.     O poeta volta a refletir sobre o amor e seus efeitos. Sobre as exigências que ele faz. Sobre as necessidades que cria. O eu lírico quer mais de sua amada, quer que ela o ame na mesma medida que ele. E quando ele não é correspondido recusa a piedade de um amor machucado.     <Em um dos versos se lê: “quebrado a teus pés, quebrado”, que exagerado.>

47- “(POETA) O sonho é como um feto que se aborta,(...) (MUSA) Sofrer, qu’importa? — Vem! Morrem as dores/ Da solidão nos recônditos mistérios!”

“ A missão do Poeta ”, publicado em vinte de outubro de 1858 em “O universo ilustrado, pittoresco e monumental”, Rio de Janeiro, ano 1, n. 29, p.3-4. Fugindo do comum, apresenta um diálogo entre a Musa e o Poeta. A Musa chama o poeta para sonhar. O Poeta reluta em aceitar, se pergunta se não é tudo ilusão. A Musa diz que o poeta não pode desistir que tem uma missão de cantar. <É lendo versos como este que percebo como o romantismo é ainda muito influente, como canta crises de sentimentos que ainda gostamos de enfrentar. Bom exemplo disso é o poetinha muito tempo depois escrever “e no entando é preciso cantar...”>

38- “Meu coração? já morreu / Para ti e teus amores, ”

“ Vai-te ”, escrito em 1 janeiro de 1858, publicado em “A Marmota”, n. 920, p. 4, 26 de janeiro de 1858. Um amor que acaba e Machado nesse poema confirma seu fim e pede para a ex-amada não mais procurá-lo. <Acho interessante comparar com os dias de hoje em que as pessoas escrevem em redes sociais seus sentimentos cotidianos e o que estão pensando. Em 1858, Machado mostra que as pessoas de sua época faziam a mesma coisa, apenas escreviam na forma regrada das poesias rimadas e metrificadas.> <Hoje para publicar seus escritos basta uma conexão à rede, antes era preciso o papel, um jornal, eram poucos os que podiam se abrir ao escrutínio da publicação. Havia uma avaliação do texto antes de ele ser publicado, hoje qualquer coisa escrita pode alcançar o mundo inteiro sem nem uma segunda lida do seu autor.>

14- “ Sou triste que a vida consiste em te amar. ”

“ Paródia ”, escrito em 5 de agosto, publicado na Marmota Fluminense, n. 611, p. 4, 14 de agosto de 1855. Várias comparações, rimas, repetições de ideias de tentativa de agradar a mulher amada. Mas o Final me surpreendeu, pode ler-se apenas os dois versos iniciais e depois pular para a estrofe final, lá o poeta nega as comparações, e se assume um triste que ama. Recomenda-se apenas esses seis versos. Como já disse não sou especialista em literatura muito menos em poesia, talvez por isso tenha me comovido, talvez apenas descobri mais um lugar comum, ou apenas ressoou em mim. E aí então deve se analisar o título: “paródia”, o iniciante escritor já está parodiando o romantismo, mas não que isso queira dizer que ele esteja diminuindo o romantismo.

11- “Verseja-se um minuto, à noite, à lua, ”

" Dormir no Campo ", escrito em 19 de julho de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 685, p. 4, 21 de fevereiro de 1856 Geralmente quando pensamos em Machado de Assis, pensamos nos seus romances que se passam em ambientes urbanos. Então é diferente e interessante vê-lo fazendo poesias, ainda mais sobre o campo, como um poeta arcadista.

10- Recomenda-se

A lua, escrito em 27 junho de 1855, publicado 17 julho de 1855.Pode ser lida neste trabalho onde foi transcrita. Descreve a lua com palavras difíceis ,como flux, fulgura, esparge, merencória. E quando parece que vai ficar apenas na sua descrição, dá vida a lua que “parece falar amores”. E aí quando se pensava tratar-se de apenas obervações externas, o poeta entra no poema, e tudo passa a ser sobre ele e seus sentimentos, que se recupera de uma tristeza, e finalmente passa a cantar a lua na segunda pessoa, que assim próxima o consola. É mais um texto que usa a Lua, um objetos inanimados, e lhe dá ações humanas. As descrições são longas e não acrescentam muito, mas gostei muito da inversão no tema que primeiro se foca na lua para depois passar ao poeta. É o primeiro poema que começo a ver a genialidade do autor. Recomendo a sua leitura.

Citações escolhidas

-- "Assim, por sobre o túmulo/ Da extinta humanidade/ Salva-se um berço; o vínculo/ Da nova criação." (1863).
-- “Abre-se o ano de 63. Com ele se renovam esperanças, com ele se fortalecem desanimados. Reunida à família em torno da mesa, hoje mais galharda e profusa, festeja o ano que alvoroce, de rosto alegre e desafogado coração. 62, decrépito, enrugado, quebrantado e mal visto, rói a um canto o pão negro do desgosto que lhe atiram tantas esperanças malogradas, tantas confianças iludidas. Pobre ano de 62! (1863).
-- “Expus com franqueza e lealdade, sem exclusão do natural acanhamento, as minhas impressões; os erros que tiver cometido provarão contra a minha sagacidade literária, nunca contra o meu caráter e a minha convicção." (1863).
-- “Que importa o labor de uma longa semana? Há, para muito descanso, o domingo da imortalidade.”(1863).
--"(...)Passarinho que sendo prisioneiro/ Fugiu matreiro/ Não volta, não!" (1862)
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