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110- “Os carinhos de Anfitrite”

O País das quimeras, publicado originalmente em “O Futuro”, 1862

É um dos primeiros contos de Machado de Assis e é profético do que vai vir.

É sobre Tito um poeta, descrito com riqueza de detalhes o que dá vida ao personagem. Tito vende versos para se sustentar.
O comprador da poesia impõe monopólio absoluto sobre a produção literária de Tito. No entanto Tito se apaixona por uma moça e começa a burlar o monopólio para dedicar poesias, sonetos e serenatas a sua amada. Mas, apesar dos esforços a moça recusa Tito, que se vê desolado.

Até aí temos um típico enredo da época, boas personagens, um bom conflito que nos leva a ansiar por qual será o desfecho.

Entretanto, numa virada de expectativas, Machado de Assis leva Tito a encontrar uma visão, uma fada alada, companheira “dos que pensam e dos que sentem”, que o leva a uma viagem pelo céu até o país das quimeras. Nesse lugar Tito encontra seres fantásticos que seguem regras próprias, seres que personificam fantasias e utopias, cicerones das excelências e senhorias, o próprio rei das bagatelas, gênios, quimeras e outras modas. Um palácio com sala de jogos, museu, galerias e uma praça. Um lugar em que o pior crime é o de “lesa-cortesia”. Todas são feitas de matéria delgada, fumo vaporoso, névoa.

É uma virada ao fantástico. Até então a obra de Machado de Assis não se aventurou nesse caminho. Agora ele leva uma personagem a viajar pelo cosmos, ultrapassando as barreiras do real e do lógico: “milagre dos milagres!”

Uma possível interpretação dessa virada é que Machado faz uma alegoria do que se passa na mente de Tito, de como ele se recupera da rejeição amoraso pela criação artística que transforma os sentimentos, traduz e os processa para que possa prosseguir vivendo a realidade. Machado diz melhor: “Entra no santuário da poesia, engolfa-te no seio da inspiração, esquecerás aí a dor da chaga que o mundo te abriu.”

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Citações escolhidas

-- "Assim, por sobre o túmulo/ Da extinta humanidade/ Salva-se um berço; o vínculo/ Da nova criação." (1863).
-- “Abre-se o ano de 63. Com ele se renovam esperanças, com ele se fortalecem desanimados. Reunida à família em torno da mesa, hoje mais galharda e profusa, festeja o ano que alvoroce, de rosto alegre e desafogado coração. 62, decrépito, enrugado, quebrantado e mal visto, rói a um canto o pão negro do desgosto que lhe atiram tantas esperanças malogradas, tantas confianças iludidas. Pobre ano de 62! (1863).
-- “Expus com franqueza e lealdade, sem exclusão do natural acanhamento, as minhas impressões; os erros que tiver cometido provarão contra a minha sagacidade literária, nunca contra o meu caráter e a minha convicção." (1863).
-- “Que importa o labor de uma longa semana? Há, para muito descanso, o domingo da imortalidade.”(1863).
--"(...)Passarinho que sendo prisioneiro/ Fugiu matreiro/ Não volta, não!" (1862)
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