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27.5- O ano de 1855

Antes de começar uma breve introdução. De todos os escritores brasileiros suponho que o mais estudado e analisado tenha sido Machado de Assis, assim qualquer tentativa de biografia e análise está fadada a ser uma repetição. Em busca de um pouco de novidade decidi que estes textos focarão mais nas obras do que nos fatos, deixarei as obras contarem a vida do poeta. Se quiserem os fatos podem achá-los nas enciclopédias. Vou falar da vida de Machado de Assis interpretando sua obra, o que tem a vantagem de ser diferente mais a desvantagem de poder ser totalmente fictício. Assim estou lendo toda a sua obra, que está acessível, em ordem cronológica e ao final de cada ano de textos farei uma análise do ano, imaginando como estaria a vida do autor. A primeira obra pública de Machado de Assis é de 1854, mas por ser a única desse ano decidi já emendar com o ano de 1855. Vamos começar. É possível imaginar como o poeta era jovem ao ler algumas dessas poesias de 1855. Aliás se estiver...

22- Reverente súdito J. M. M. d’Assis

" Soneto a S.M. O Imperador, o senhor D.Pedro II ", publicado na Marmota Fluminense, n. 654, p. 1, 2 de dezembro de 1855. É como o título diz uma homenagem a D. Pedro II. Quem diria Machado de Assis puxando o saco, ele assina o poema assim: “Pelo seu reverente súdito J. M. M. d’Assis”.

21- Ainda lindo?

" O pão d'açúcar ", escrito em 30 de outubro de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 651, p. 3, 23 de novembro de 1855. Descrição do pão de açúcar do Rio de janeiro, compara-o com um gigante que dorme. Dá-lhe uma ação humana a de sorrir frente a tempestades, ventos e ao tempo. Mais uma faceta do romântico nacionalista.

20- Pedido e homenagem

“ O gênio adormecido ”, publicado na Marmota Fluminense, n. 642, pp. 3-4, 28 de outubro de 1855. Homenagem a Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, e também reclama que ele volte a escrever, por isso estaria adormecido como diz o título.

19- “Lá na etérea imensidade”.

“ Um Anjo ”, escrito em outubro de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n.º 702, 1 abr. 1856. É em homenagem à irmã do autor que já havia morrido. Não há muito que comentar, mantém o estilo da época. Uma estrofe sua poderia ser utilizada ainda hoje em uma lápide.

18- A poesia de então.

“ No álbum do Sr. F.G.Braga ”, publicado na Marmota Fluminense, n. 634, pp. 3-4, 9 de outubro de 1855. É uma homenagem a F.G. Braga amigo e colaborador da Marmota, e fala de sua obra, e da poesias em geral, que é um bom resumo do romantismo brasileiro que chora os amores e a pátria. Também fala da poesia clássica de Camões.

17- Lugares comuns

“ A uma Menina ”, escrito em 19 set, publicado em 21 out,1855, Marmota Fluminense, n. 639, p. 4, 21 de outubro de 1855. O poeta parece estar consolando alguma conhecida sua. Começa comparando a mulher com as flores. Elogia que ela por ser ainda menina e não mulher, por ser inocente e não ter malícia. E finalmente a compara com um anjo. Enfim, todos lugares comuns.

16- O estudo do texto.

"O profeta" , escrito em 11 de setembro de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 644, p. 3, 2 de novembro de 1855. Poesia muito diferente de todas até então lidas, não há amores, saudades, é uma descrição histórica. Fala sobre profecias. Cria um suspense sobre qual será a visão do profeta. Mas fica tudo no suspense e se revelam apenas possibilidades ao leitor. Seria apena um anticlímax? É um fragmento, talvez na editoração do periódico tenha sido cortado uma parte da poesia, o resto dela só em algum manuscrito, que muito provavelmente já esteja perdido para todo o sempre. Mas estudando o texto um pouco mais, me passa pela cabeça que possa ser uma descrição de um acontecimento bíblico, quando Moisés recebe os dez mandamentos. Não sou especialista em profetas então recorri à alguns amigos professores, que logo me elucidaram: Professora M.C.: “Quanto ao profeta de Machado, bem se vê que o cara sabia das coisas. Acho difícil tratar-se de Moisés, pois reiteradamente f...

15- Mais que nostalgia

" A saudade ", escrito em 1 setembro de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 632, p. 3, 5 de outubro de 1855.  É a terceira vez que Machado de Assis usa essa palavra como título para um poema. O poema tem três partes, na primeira é quase uma prosa descrevendo a saudade e os sentimentos que traz. Na segunda parte há rimas, versos menores, um apelo, uma invocação da saudade, que tem carinhos e espinhos. Na terceira parte volta ao passo da primeira, prevendo esperança. É corrente a noção que a palavra “saudade” é particular ao português, que não tem tradução, que é mais que uma simples nostalgia. Com suas poesias Machado pode ser usado como argumento dessa tese.

14- “ Sou triste que a vida consiste em te amar. ”

“ Paródia ”, escrito em 5 de agosto, publicado na Marmota Fluminense, n. 611, p. 4, 14 de agosto de 1855. Várias comparações, rimas, repetições de ideias de tentativa de agradar a mulher amada. Mas o Final me surpreendeu, pode ler-se apenas os dois versos iniciais e depois pular para a estrofe final, lá o poeta nega as comparações, e se assume um triste que ama. Recomenda-se apenas esses seis versos. Como já disse não sou especialista em literatura muito menos em poesia, talvez por isso tenha me comovido, talvez apenas descobri mais um lugar comum, ou apenas ressoou em mim. E aí então deve se analisar o título: “paródia”, o iniciante escritor já está parodiando o romantismo, mas não que isso queira dizer que ele esteja diminuindo o romantismo.

13- um beijo

“ Um sorriso ”, escrito em 4 agosto de 1855, publicado na “Marmota Fluminense”, n. 610, p. 2, 12 de agosto de 1855 É obviamente sobre um sorriso, um sorriso idealizado, que cura dores. O jovem Machado provavelmente estava passando por uma desilusão amorosa. A maioria dos textos até aqui abordam essa dor, e como ele convive com ela, mas aqui a amada não está tão longe e acontece um beijo. Assim marca a primeira concretização desse amor nascido de desilusões passadas. É possível imaginar a poesia sendo lida em frente da mulher amada esperando nela a concretização das palavras.

12- “Com ternura(...) com afeto”

“Como te amo”, escrito em 1 ago, 1855, publicado na “Marmota Fluminense”, n. 610, p. 2, 12 de agosto de 1855.Pode ser lida neste trabalho onde foi transcrita. O poeta se compara a objetos, animais, e seus respectivos focos de paixão com a sua amada e como ele a ama. Continua a temática das suas outras poesias e nestas partes nenhuma novidade. Poderia ser a letra de uma música romântica moderna, salvo o uso de algumas palavras pouco conhecidas.

11- “Verseja-se um minuto, à noite, à lua, ”

" Dormir no Campo ", escrito em 19 de julho de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 685, p. 4, 21 de fevereiro de 1856 Geralmente quando pensamos em Machado de Assis, pensamos nos seus romances que se passam em ambientes urbanos. Então é diferente e interessante vê-lo fazendo poesias, ainda mais sobre o campo, como um poeta arcadista.

10- Recomenda-se

A lua, escrito em 27 junho de 1855, publicado 17 julho de 1855.Pode ser lida neste trabalho onde foi transcrita. Descreve a lua com palavras difíceis ,como flux, fulgura, esparge, merencória. E quando parece que vai ficar apenas na sua descrição, dá vida a lua que “parece falar amores”. E aí quando se pensava tratar-se de apenas obervações externas, o poeta entra no poema, e tudo passa a ser sobre ele e seus sentimentos, que se recupera de uma tristeza, e finalmente passa a cantar a lua na segunda pessoa, que assim próxima o consola. É mais um texto que usa a Lua, um objetos inanimados, e lhe dá ações humanas. As descrições são longas e não acrescentam muito, mas gostei muito da inversão no tema que primeiro se foca na lua para depois passar ao poeta. É o primeiro poema que começo a ver a genialidade do autor. Recomendo a sua leitura.

9- Em voz Alta

Teu Canto , escrito em em 29 junho 1855, publicado na Marmota Fluminense, n.º 600, 15 jul. 1855.  Descrever a paixão por alguém, inúmeras vezes, era a arte da poesia da época. Mudava-se as rimas, o número de sílabas dos versos e as imagens metafóricas da beleza da amada e da força do sentimento. Esta obra, comparadas com as outras até então lidas, tem uma estrutura diferente, não contendo todos os versos o mesmo número de sílabas. São dois versos maiores seguidos de dois menores, num total de oito vezes. Dita em voz alta soa muito bem e poderia dar uma bela melodia. Se no conteúdo não inova, nem muito na estrutura, dá prazer à língua dizê-la.

8- “Escuta os meigos cantos de minh’alma ”

" Meu Anjo ", escrito 21 junho de 1855, publicado na Marmota Fluminense, 24 jul. 1855. Terrivelmente meloso e longo, poema que representa ao máximo o que as pessoas normalmente pensam quando ouvem a palavra romântico. E nesse sentido é romântico ao extremo. Pode ser usado em salas de aula para ilustrar o tema. Mas se nos permitimos um momento em que colocamos todo nosso ceticismo em espera, um momento de pausa de ironias e pessimismo, talvez consigamos até nos emocionar com os versos.

7- Um belo nome

Seguem agora meus comentários sobre a próximo texto de Machado de Assis, que é: Júlia , Marmota Fluminense, 18 mai. 1855: É a típica idealização da mulher amada, colocada em lugar inatingível. Perfeita em tudo, inspiração para tudo.

6- Suas flores

Lembrança de Amor, escrito em 10 de maio de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 587, pp. 3-4, 1 de junho de 1855. Pode ser lida neste trabalho onde foi transcrita. O autor aqui vai montando um buque de flores, comparando-as com características da amada, e do amor perfeito. É uma idealização, mas de um amor que acabou ou está prestes a acabar por isso a lembrança de amor.

5. Uma terrível e linda flor.

A próxima obra é : A saudade , Marmota Fluminense, 20 mar. 1855. Marmota Fluminense, n. 564, p. 4, 20 de março de 1855. Compara a saudade com uma flor de folhas roxas, que é linda mas não tem perfume. Que causa tristeza ao seu coração e não deseja que ninguém compartilhe desse seu sentimento. Quando li pela primeira vez pensei que se tratava apenas de uma metáfora sem qualquer base em realidade, mas, para minha surpresa, pesquisando um pouco descobri que existe uma flor chamada de “escabiosa”ou “saudade” que de fato tem cor roxa.

4- A primeira Saudade ?

“Saudades”, escrito em 25 de fevereiro de 1855. Publicado na Marmota Fluminense, n. 578, p. 4, 1 de maio de 1855. Existem duas poesias atribuídas a Machado de Assis com esse nome. Uma que pode ser lida neste trabalho onde foi transcrita, ou na hemeroteca digital , é em homenagem à F. G. Braga . A outra poesia é sobre a perda da mãe do poeta, e a dor que isso lhe causa. A morte aqui é tratada como alternativa de uma vida sofrida. Assim pede a morte enquanto jovem, aquela dos poetas românticos. Este comentário foi retificado como pode explicar esta nota .

Citações escolhidas

-- "Assim, por sobre o túmulo/ Da extinta humanidade/ Salva-se um berço; o vínculo/ Da nova criação." (1863).
-- “Abre-se o ano de 63. Com ele se renovam esperanças, com ele se fortalecem desanimados. Reunida à família em torno da mesa, hoje mais galharda e profusa, festeja o ano que alvoroce, de rosto alegre e desafogado coração. 62, decrépito, enrugado, quebrantado e mal visto, rói a um canto o pão negro do desgosto que lhe atiram tantas esperanças malogradas, tantas confianças iludidas. Pobre ano de 62! (1863).
-- “Expus com franqueza e lealdade, sem exclusão do natural acanhamento, as minhas impressões; os erros que tiver cometido provarão contra a minha sagacidade literária, nunca contra o meu caráter e a minha convicção." (1863).
-- “Que importa o labor de uma longa semana? Há, para muito descanso, o domingo da imortalidade.”(1863).
--"(...)Passarinho que sendo prisioneiro/ Fugiu matreiro/ Não volta, não!" (1862)
-- Ver todas