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16- O estudo do texto.

"O profeta", escrito em 11 de setembro de 1855, publicado na Marmota Fluminense, n. 644, p. 3, 2 de novembro de 1855.

Poesia muito diferente de todas até então lidas, não há amores, saudades, é uma descrição histórica. Fala sobre profecias. Cria um suspense sobre qual será a visão do profeta. Mas fica tudo no suspense e se revelam apenas possibilidades ao leitor. Seria apena um anticlímax?
É um fragmento, talvez na editoração do periódico tenha sido cortado uma parte da poesia, o resto dela só em algum manuscrito, que muito provavelmente já esteja perdido para todo o sempre.

Mas estudando o texto um pouco mais, me passa pela cabeça que possa ser uma descrição de um acontecimento bíblico, quando Moisés recebe os dez mandamentos.
Não sou especialista em profetas então recorri à alguns amigos professores, que logo me elucidaram:

Professora M.C.: “Quanto ao profeta de Machado, bem se vê que o cara sabia das coisas. Acho difícil tratar-se de Moisés, pois reiteradamente fala-se em "templo" (aliás, ruínas), o que na época de Moisés não existia, pois o povo era nômade e habitava em tendas (lembrando que o primeiro templo foi edificado pelo Rei Salomão, por encargo do Rei Davi).
Quando li (especialmente por conta do fragmento), confesso que me vieram à mente as figuras do profetas de Aleijadinho. O problema é que não são de argila. Não obstante, acho possível tratar-se do profeta Daniel (viveu em cativeiro na Babilônia - mas não tinha acesso ao templo em Jerusalém, falava de acontecimentos de um futuro próximo e do fim do mundo, passava madrugadas tendo visões), ou do profeta Jeremias (esse vivia no templo, acordava de madrugada todos os dias para profetizar, e viu a sua terra sendo conquistada, conforme o que tinha dito e ninguém havia acreditado). Ou do profeta Joel, o mais eloquente dos profetas menores em relação à descrição do fim dos tempos. Mas, claro, pode ser um "profeta genérico", já que no sentido espiritual os templos estão mesmo em ruínas, e que é difícil recebermos revelações à luz do dia.”

Professor R.O. : “A epígrafe do poema é extraída da parte V do "Ideias Íntimas", do Álvarez de Azevedo. Esse trecho fala de um cara chamado Hugues Felicité Robert de Lamennais, que tretou pela restauração da igreja após a Revolução Francesa e, parece, conseguiu certa notoriedade no início do século XIX. Não seria o poema do Machado sobre este cara? Parece que é possível. “

O leitor de Machado de Assis: obrigado professores concordo plenamente.

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Citações escolhidas

-- "Assim, por sobre o túmulo/ Da extinta humanidade/ Salva-se um berço; o vínculo/ Da nova criação." (1863).
-- “Abre-se o ano de 63. Com ele se renovam esperanças, com ele se fortalecem desanimados. Reunida à família em torno da mesa, hoje mais galharda e profusa, festeja o ano que alvoroce, de rosto alegre e desafogado coração. 62, decrépito, enrugado, quebrantado e mal visto, rói a um canto o pão negro do desgosto que lhe atiram tantas esperanças malogradas, tantas confianças iludidas. Pobre ano de 62! (1863).
-- “Expus com franqueza e lealdade, sem exclusão do natural acanhamento, as minhas impressões; os erros que tiver cometido provarão contra a minha sagacidade literária, nunca contra o meu caráter e a minha convicção." (1863).
-- “Que importa o labor de uma longa semana? Há, para muito descanso, o domingo da imortalidade.”(1863).
--"(...)Passarinho que sendo prisioneiro/ Fugiu matreiro/ Não volta, não!" (1862)
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